domingo, 3 de julho de 2011

Depois do suicídio




Quando tudo parece sem sentido, ou quando você acha que não há mais razão para mais nada, ou quando você passa por alguma situação desconfortável, ou quando acha que algo não tem solução... Quando você sente uma culpa por algo que fez, ou quando imagina ser só e sempre ser só, quando pensa no futuro como algo sem perspectiva, ou quando vê o presente como uma coisa aterrorizante... Quando você passa por uma dessas situações (ou todas elas) a morte parece ser tentadora. Você fica sonhando com ela, imaginando-se morta, sem nenhum problema. Quando a idéia do suicídio passa pela sua cabeça uma vez você vira um tipo estranho de pessoa, uma forma de vida que adora fantasiar sobre a própria morte. Imagina que você tem a solução para todos os seus problemas ali, sempre que quiser. Se for mal em uma prova, você se mata. Se brigar com o namorado, você se mata. Se não gostar do bolo de aniversário... Você se mata. A morte sempre está presente se você quiser fugir de alguma dor. Afinal, a morte parece ser a solução para tudo. Aí você fica reunindo coragem, buscando forças para ir em direção a ela e quando você chega ao seu limite de repente se vê com uma corda no pescoço, ou uma faca na veia ou quem sabe com alguns comprimidos no estômago (eu escolhi a última opção).

 Os primeiros minutos são calmos, você se sente aliviada, sem se importar com mais nada... Nessa hora vem a vontade de deixar uma carta, algo que sirva pra que você seja lembrada e então você percebe que quer permanecer viva na mente das pessoas que você ama. No meu caso, a carta que escrevi foi para isentá-los de culpa. Da culpa pelo que fiz. Passados os primeiros minutos vieram as náuseas, as dores, a vontade de segurar o vômito (senão o efeito não sairia como desejado)... Tontura e por fim o desmaio. E você acorda no outro dia frustrada e com as “sequelas” de sua tentativa mal sucedida. Não consegue levantar, não consegue comer e tem que fingir algum tipo de doença para que sua família não descubra que você tentou se matar. Vai ao hospital, mente pro médico e finge estar bem.

Depois de tudo passado, das mentiras contadas, das dores justificadas, você se olha no espelho e enxerga outra pessoa. Porque você se torna outra pessoa. Nos primeiros dias você se torna um NADA, uma fracassada. Foi assim que eu me senti. Uma fracassada. Hoje, esse fracasso é o meu maior orgulho. Orgulho-me de não ter conseguido morrer. Porque depois que você vê a morte de perto, depois que sente a presença dela, você percebe como o desejo de morrer é ridículo. Você começa a olhar a vida de outro ângulo, percebe as coisas que você teria perdido, coisas que você nem chegou a conquistar ainda mas que VIVA você tem essa capacidade. Seus sonhos tornam-se um pouco mais palpáveis, mais reais. A vontade de lutar pelo que se quer cresce e você vê o quanto é bom estar viva. E quando você sente essa vontade de viver depois de tentar o suicídio então você percebe o quanto você é forte, não por ter conseguido vencer a morte mas por ter conseguido vencer a si mesma.

Pelo menos comigo foi assim!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

17 Andares



17 andares

O vento toca o seu rosto. Ela sente a liberdade. 17 andares acima do seu destino. O ultimo.  Ela chora. Suas lágrimas nem chegam a tocar o chão, 17 andares abaixo. Ao longe ela consegue ver o mar. Um grande tapete negro se estendendo pela madrugada. Ondas chocando-se violentamente sobre as pedras. Lágrimas caindo lentamente sem tocar o chão. 17 andares abaixo. O mar, tão salgado como suas lágrimas jamais poderiam ser.
Ela olha para baixo. O vento atravessa seu estômago. No seu íntimo ela quer que alguém apareça. Deseja a punição por estar ali. Mas todos dormem em seus 17 andares. Ela avisou que estaria ali. Ninguém acreditou. Todos dormem. Ela pensa no noticiário da manhã seguinte: Acidente ou Suicídio?... Palavras ignoradas. E todos dormem. Em seus 17 andares. E todos sonham. Enquanto ela vive seu último pesadelo.
17 anos. 17 anos não vividos. 17 andares. Acima, muito acima está o céu... Com sua Lua Cheia brilhando fortemente como que se despedindo. E ondas chocando-se nas pedras. E lágrimas que não tocam o chão. E todos dormem. E sua vida passa como um filme em sua mente. Ela se vê como antagonista de uma tragédia. Vê as vezes em que foi ignorada quando tentava ser percebida. Vê os amigos que nunca teve. E tudo o que perdeu e o que nem chegou a conquistar. “90% das pessoas que cometem suicídio avisam antes de o cometerem”. E ela avisou. Mas todos dormem. Em seus 17 andares. E todos sonham, e todos dormem. E ela pula.
Cai lentamente. Sente o vento em sua pele cheia de cicatrizes. Em pulsos rasgados.  E não chora. Não há mais lágrimas a derramar. Não há mais motivos para chorar. Não há mais nada, afinal. Fecha os olhos e tenta não pensar na dor que espera não sentir. E toca. E toca o chão. E tudo se fecha.
E tudo acaba.
17 anos. 17 andares. E tudo acaba.